Uma amiga (irmã de coração) está tendo, pela primeira vez, a oportunidade de viver fora do Brasil por um longo período. Experiência essa que ela sempre desejou e lutou muito para conseguir. E ela, finalmente, alcançou seu objetivo por mérito próprio e com muito merecimento!
Mas onde é que estou querendo chegar com esse assunto?
É que recentemente nós tivemos um ótimo papo e pudemos dividir experiências, que antes nos eram mais limitadas, já que há coisas que somente podemos compreender completamente, quando somos colocados na mesma situação.
Falamos da solidão que se sente quando vivemos no exterior, principalmente nos primeiros meses. É incrível como nos sentimos sós, mesmo estando rodeados de pessoas. Eu já passei por isso três vezes, e mesmo com tais experiências, nunca deixei de sentir esse mesmo efeito, esse mesmo conflito de sentimentos, essa mesma solidão.
Porém a vantagem em já ter vivido isso algumas vezes, é saber que esse sentimento muda, passa, só variando o tempo que demora essa mudança, já que isso depende de cada circunstância e de cada pessoa.
Por isso vou dividir com vocês alguns conselhos ou simples observações que notei ao longo de minha caminhada. Tudo isso com o intuito de ajudar outras pessoas que estejam ou estarão algum dia vivendo uma situação parecida.
Primeiramente, os amigos dificilmente virão até você. Então, coloque o chapéu da humildade e vá atrás mesmo! No começo é assim, use seus contatos e suas ferramentas para ir descobrindo pessoas com quem você poderia ter afinidades. Se achar que não está havendo empatia no começo, não desista, uma hora você vai encontrar alguém especial, e que fará toda essa busca valer a pena! E tenho certeza de que você vai se surpreender e encontrará mais de uma pessoa que acabará fazendo a diferença na sua vida.
Segundo conselho, uma vez "enturmado", não espere se tornar melhor amigo de alguém de uma hora para outra. Não é assim no Brasil, porque seria diferente no exterior? Amizade exige tempo, dedicação, para que se consiga chegar a um estágio que gosto de me referir como "conforto". Sabe quando você conhece as pessoas, mas ainda não se sente 100% a vontade para ser você mesmo? Você fica pensando o que dizer antes de dizer, para saber se tal comentário é apropriado, se as pessoas estão gostando de você, etc. Pois é, isso é super normal e esse estágio também passa... Com o tempo, você vai poder dizer suas abobrinhas sem medo de ser feliz e sem medo de ser julgada ou perder a amizade! Você vai sim se sentir confortável com as pessoas!
Só para vocês terem uma idéia, agora é que estou me sentindo nessa fase de "conforto", ou seja, depois de cinco meses de Austrália. Então, realmente não é da noite para o dia e é normal demorar mais ou menos do que isso. Já diz o sábio ditado: cada caso é um caso!
Por outro lado, na Alemanha eu me lembro de ter superado essa fase mais rapidamente, mas eram outras circunstâncias, um caso especial de um grupo que acolhia e que continua acolhendo com muito carinho os recém-chegados. Caso raro mesmo! Trago muito do meu lado prestativo e acolhedor desse tempo...
Terceiro, quando for se abrir com alguém sobre esse assunto, escolha direitinho com quem falar, senão você vai acabar escutando aquelas coisas típicas e desagradáveis: “ué, mas isso não era seu sonho? Tá reclamando porque? Você que quis morar fora, agora aguenta. Tá ruim aí, volta pra cá! Falei pra você não ir! Você não vai encontrar amigos melhores aí.”
Isso acontece com mais frequência do que imaginamos... Tais comentários vem de pessoas que, na minha opinião, são ainda um pouco pobres de espírito e dão opinião onde não tem condição, por pura falta de conhecimento. Além do que, nem tudo são flores. Isso é assim em qualquer situação da vida... We all should know better...
Mas não desanimem!
No fim das contas, sabe qual o lado bom dessa experiência, às vezes longa, às vezes sofrida?
Crescimento!!! Muito crescimento!!!
E sabem o que mais?
Amigos pra vida toda, amigos sem preconceito de cor, nacionalidade, origem,classe social, religião, idade... Amigos que você conquistou, apesar das dificuldades, das diferenças. Amigos que se apreciam pelas diferenças!
E ainda tem ainda mais...
Nos tornamos mais solidários com outras pessoas recém-chegadas. Aprendemos a estender a mão para essas pessoas porque alguém também já estendeu a mão para a gente e percebemos o quanto isso foi importante na nossa adaptação.
Enfim, adquirimos um nível de valorização das pessoas muito maior do aquele que costumávamos ter. Em outras palavras, passamos a dar um valor muito maior às pessoas que amamos. E esse ponto, tenho certeza, é unânime! Não é?
"A melhor maneira de amar de novo a pátria é afastar-se dela por algum tempo." (Nicolai Lesskov)